sábado, 27 de novembro de 2010

27 de Novembro

"Observo em nós apenas uma única coisa que nos pode dar justa razão para nos estimarmos, a saber: o uso do nosso livre-arbítrio e o domínio que temos sobre as nossas vontades. Pois as acções que dependem desse livre-arbítrio são as únicas pelas quais podemos com razão ser louvados ou censurados, e ele torna-nos de alguma forma semelhante a Deus ao fazer-nos senhores de nós mesmos, desde que por cobardia não percamos os direitos que nos dá.

Assim, creio que a verdadeira generosidade, que faz um homem estimar-se a si mesmo no mais alto grau em que pode legitimamente estimar-se, consiste somente, por uma parte, em que ele sabe que não há algo que realmente lhe pertença a não ser essa livre disposição das suas vontades, nem por que ele deva ser louvado ou censurado a não ser porque faz bom ou mau uso dela; e, por outra parte, em que ele sente em si mesmo uma firme e constante resolução de fazer bom uso dela, isto é, de nunca deixar de ter vontade para empreender e executar todas as coisas que julgar serem as melhores. Isso é seguir perfeitamente a virtude.

Nota: O latim generosus designa o homem ou animal que é de boa raça. Portanto, «generoso» é antes de tudo aquele que é de raça nobre e, no sentido figurado ou moral, aquele que demonstra grandeza de alma."

in 'As Paixões da Alma'
René Descartes

26 de Novembro

"Da sociedade e do luxo que ela engendra, nascem as artes liberais e mecânicas, o comércio, as letras, e todas essas inutilidades que fazem florescer a indústria, enriquecem e perdem os Estados. A razão desse deperecimento é muito simples. É fácil ver que, pela sua natureza, a agricultura deve ser a menos lucrativa de todas as artes, porque, sendo o seu produto de uso mais indispensável para todos os homens, o preço deve estar proporcionado às faculdades dos mais pobres. Do mesmo princípio pode-se tirar a regra de que, em geral, as artes são lucrativas na razão inversa da sua utilidade, e de que as mais necessárias, finalmente, devem tornar-se as mais negligenciadas. Por ai se vê o que se deve pensar das verdadeiras vantagens da indústria e do efeito real que resulta dos seus progressos. Tais são as causas sensíveis de todas as misérias em que a opulência precipita, finalmente, as nações mais admiradas.

À medida que a indústria e as artes se estendem e florescem, o cultivador desprezado, carregado de impostos necessários à manutenção do luxo, e condenado a passar a vida entre o trabalho e a fome, abandona o campo para ir procurar na cidade o pão que devia levar para lá. Quanto mais as capitais impressionam de admiração os olhos estúpidos do povo, tanto mais seria preciso lastimar o abandono dos campos, as terras incultas e as estradas cheias de cidadãos desgraçados transformados em mendigos ou ladrões, e destinados um dia a acabar a sua miséria pelos caminhos ou sobre um monte de esterco. É assim que o Estado se enriquece por um lado, e se enfraquece e se despovoa, por outro, e que as mais poderosas monarquias, após muitos trabalhos para se tornarem opulentas e desertas, acabam por se tornar a presa de nações pobres que sucumbem à funesta tentação de as invadir, e que são invadidas e enfraquecem por sua vez, até que elas mesmas sejam invadidas e destruídas por outras."

in 'Discurso Sobre a Origem da Desigualdade'
Jean-Jacques Rousseau

25 de Novembro

"Creio que o exagero da atitude puramente intelectual, orientando, muitas vezes, a nossa educação, em ordem exclusiva ao real e à prática, contribuiu para pôr em perigo os valores éticos. Não penso propriamente nos perigos que o progresso técnico trouxe directamente aos homens, mas antes no excesso e confusão de considerações humanas recíprocas, assentes num pensamento essencialmente orientado pelos interesses práticos que vem embotando as relações humanas.

O aperfeiçoamento moral e estético é um objectivo a que a arte, mais do que a ciência, deve dedicar os seus esforços. É certo que a compreensão do próximo é de grande importância. Essa compreensão, porém, só pode ser fecunda quando acompanhada do sentimento de que é preciso saber compartilhar a alegria e a dor. Cultivar estes importantes motores de acção é o que compete à religião, depois de libertada da superstição. Nesse sentido, a religião toma um papel importante na educação, papel este que só em casos raros e pouco sistematicamente se tem tomado em consideração.

O terrível problema magno da situação política mundial é devido em grande parte àquela falta da nossa civilização. Sem «cultura ética» , não há salvação para os homens."

in 'Como Vejo o Mundo'
Albert Einstein

terça-feira, 23 de novembro de 2010

24 de Novembro

A vocação é um chamamento para seguir o caminho que Deus tem para nós (Projecto de Deus). Não passa só pelo grande sim que vamos ter de dar, mas pelos pequenos sims que contróiem o caminho para Deus, também são vocação.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

23 de Novembro

Conversas de Messenger:


[c=4]Rinka[/c]- Winry says:
Entao ela conta que um dia numa faculdade de Teologia alguem pergunta ao prof porque morreu Jesus naquele dia e não noutro dia qualquer
E o professor faz um grande discurso, sobre a vida, a impermanência das coisas, cita a Biblia e tal
E o aluno não percebe nada e sente-se perdido
Um dia pergunta a um sem abrigo que ele ajudava e esse responde-lhe
Cristo morreu nesse dia para poder salvar o bom ladrão
R says:

Obrigada Leonor e Manel:)!

22 de Novembro

"A doença é um estorvo para o corpo, mas não para a vontade se ela não o desejar. O ser-se coxo é um estorvo para as pernas, mas não o é para a vontade. Assim pondera todo e qualquer acidente, e chegarás à conclusão de que o acidente estorva sempre uma ou outra coisa - e que só para ti, movido de vontade, não é estorvo de espécie alguma."

in 'Manual'
Epicteto

domingo, 21 de novembro de 2010

21 de Novembro

Por mais incomodativo que possa ser para um Governo, a Religião nunca deixará de dizer aquilo em que acredita. É por isso que alguns governos conviveram mal com a religião, inclusivamente perseguindo-a, e é também por isso que a religião contribui para a liberdade social, além da libertação humana que Deus opera em nós. Tal como escreveu Alexis de Tocqueville,

A liberdade vê na religião a companheira das suas lutas e dos seus triunfos, o berço da sua infância, a fonte divina dos seus direitos. Considera-a a salvaguarda dos costumes e estes garantes das leis e da sua própria durabilidade.

Alexis de Tocqueville, in "Da Democracia na América" (1835)

sábado, 20 de novembro de 2010

20 de Novembro

UM SEGREDO DE UM CASAMENTO FELIZ

"Desde que a Maria João e eu fizemos dez anos de casados que estou para escrever sobre o casamento. Depois caí na asneira de ler uns livros profissionais sobre o casamento e percebi que eu não percebo nada sobre o casamento.

Confesso que a minha ambição era a mais louca de todas: revelar os segredos de um casamento feliz. Tendo descoberto que são desaconselháveis os conselhos que ia dar, sou forçado a avisar que, quase de certeza, só funcionam no nosso casamento.

Mas vou dá-los à mesma, porque nunca se sabe e porque todos nós somos muito mais parecidos do que gostamos de pensar.

O casamento feliz não é nem um contrato nem uma relação. Relações temos nós com toda a gente. É uma criação. É criado por duas pessoas que se amam.

O nosso casamento é um filho. É um filho inteiramente dependente de nós. Se nós nos separarmos, ele morre. Mas não deixa de ser uma terceira entidade.

Quando esse filho é amado por ambos os casados - que cuidam dele como se cuida de um filho que vai crescendo -, o casamento é feliz. Não basta que os casados se amem um ao outro. Têm também de amar o casamento que criaram.

O nosso casamento é uma cultura secreta de hábitos, métodos e sistemas de comunicação. Todos foram criados do zero, a partir do material do eu e do tu originais.

Foram concordados, são desenvolvidos, são revistos, são alterados, esquecidos e discutidos. Mas um casamento feliz com dez anos, tal como um filho de dez anos, tem uma personalidade mais rica e mais bem sustentada, expressa e divertida do que um bebé com um ano de idade.

Eu só vivo desta maneira - que é o nosso casamento - vivendo com a Maria João, da maneira como estamos um com o outro, casados. Nada é exportável. Não há bocados do nosso casamento que eu possa levar comigo, caso ele acabe.

O casamento é um filho carente que dá mais prazer do que trabalho. Dá-se de comer ao bebé mas, felizmente, o organismo do bebé é que faz o trabalho dificílimo, embora automático, de converter essa comida em saúde e crescimento.

Também o casamento precisa de ser alimentado mas faz sozinho o aproveitamento do que lhe damos. Às vezes adoece e tem de ser tratado com cuidados especiais. Às vezes os casamentos têm de ir às urgências. Mas quanto mais crescem, menos emergências há e melhor sabemos lidar com elas.

Se calhar, os casais apaixonados que têm filhos também ganhariam em pensar no primeiro filho que têm como sendo o segundo. O filho mais velho é o casamento deles. É irmão mais velho do que nasce e ajuda a tratar dele. O bebé idealmente é amado e cuidado pela mãe, pelo pai e pelo casamento feliz dos pais.

Se o primeiro filho que nasce é considerado o primeiro, pode apagar o casamento ou substitui-lo. Os pais jovens - os homens e as mulheres - têm de tomar conta de ambos os filhos. Se a mãe está a tratar do filho em carne e osso, o pai, em vez de queixar-se da falta de atenção, deve tratar do mais velho: do casamento deles, mantendo-o romântico e atencioso.

Ao contrário dos outros filhos, o primeiro nunca sai de casa, está sempre lá. Vale a pena tratar dele. Em contrapartida, ao contrário dos outros filhos, desaparece para sempre com a maior das facilidades e as mais pequenas desatenções. O casamento feliz faz parte da família e faz bem a todos os que também fazem parte dela.

Os livros que li dão a ideia de que os casamentos felizes dão muito trabalho. Mas se dão muito trabalho como é que podem ser felizes? Os livros que li vêem o casamento como uma relação entre duas pessoas em que ambas transigem e transaccionam para continuarem juntas sem serem infelizes. Que grande chatice!

Quando vemos o trabalho que os filhos pequenos dão aos pais, parece-nos muito e mal pago, porque não estamos a receber nada em troca. Só vemos a despesa: o miúdo aos berros e a mãe aflita, a desfazer-se em mimos.

É a mesma coisa com os casamentos felizes. Os pais felizes reconhecem o trabalho que os filhos dão mas, regra geral, acham que vale a pena. Isto é, que ficaram a ganhar, por muito que tenham perdido. O que recebem do filho compensa o que lhe deram. E mais: também pensam que fizeram bem ao filho. Sacrificam-se mas sentem-se recompensados.Num casamento feliz, cada um pensa que tem mais a perder do que o outro, caso o casamento desapareça. Sente que, se isso acontecer, fica sem nada. É do amor. Só perdeu o casamento deles, que eles criaram, mas sente que perdeu tudo: ela, o casamento deles e ele próprio, por já não se reconhecer sozinho, por já não saber quem é - ou querer estar com essa pessoa que ele é.

Se o casamento for pensado e vivido como uma troca vantajosa - tu dás-me isto e eu dou-te aquilo e ambos ficamos melhores do que se estivéssemos sozinhos -, até pode ser feliz, mas não é um casamento de amor.

Quando se ama, não se consegue pensar assim. E agora vem a parte em que se percebe que estes conselhos de nada valem - porque quando se ama e se é amado, é fácil ser-se feliz. É uma sorte estar-se casado com a pessoa que se ama, mesmo que ela não nos ame.

Ouvir um casado feliz a falar dos segredos de um casamento feliz é como ouvir um bilionário a explicar como é que se deve tomar conta de uma frota de aviões particulares - quantos e quais se devem comprar e quais as garrafas que se deve ter no bar, para agradar aos convidados.

Dirijo-me então às únicas pessoas que poderão aproveitar os meus conselhos: homens apaixonados pelas mulheres com quem estão casados.

E às mulheres apaixonadas pelos homens com quem estão casadas? Não tenho nada a dizer. Até porque a minha mulher continua a ser um mistério para mim. É um mistério que adoro, mas constitui uma ignorância especulativa quase total.

Assim chego ao primeiro conselho: os homens são homens e as mulheres são mulheres. A mulher pode ser muito amiga, mas não é um gajo. O marido pode ser muito amigo, mas não é uma amiga.

Nos livros profissionais, dizem que a única grande diferença entre homens e mulheres é a maneira como "lidam com o conflito": os homens evitam mais do que as mulheres. Fogem. Recolhem-se, preferem ficar calados.

Por acaso é verdade. Os livros podem ser da treta mas os homens são mais fugidios.

Em vez de lutar contra isso, o marido deve ceder a essa cobardia e recolher-se sempre que a discussão der para o torto. Não pode ser é de repente. Tem de discutir (dizê-las e ouvi-las) um bocadinho antes de fugir.

Não pode é sair de casa ou ir ter com outra pessoa. Deve ficar sozinho, calado, a fumegar e a sofrer. Ele prende-se ali para não dizer coisas más.

As más coisas ditas não se podem desdizer. Ficam ditas. São inesquecíveis. Ou, pior ainda, de se repetirem tanto, banalizam-se. Perdem força e, com essa força, perde-se muito mais.

As zangas passam porque são substituídas pela saudade. No momento da zanga, a solidão protege-nos de nós mesmos e das nossas mulheres. Mas pouco - ou muito - depois, a saudade e a solidão tornam-se insuportáveis e zangamo-nos com a própria zanga. Dantes estávamos apenas magoados. Agora continuamos magoados mas também estamos um bocadinho arrependidos e esperamos que ela também esteja um bocadinho.

Nunca podemos esconder os nossos sentimentos mas podemos esconder-nos até poder mostrá-los com gentileza e mágoa que queira mimo e não proclamação.

Consiste este segredo em esperar que o nosso amor por ela nos puxe e nos conduza. A tempestade passa, fica o orgulho mas, mesmo com o orgulho, lá aparece a saudade e a vontade de estar com ela e, sobretudo, empurrador, o tamanho do amor que lhe temos comparado com as dimensões tacanhas daquela raivinha ou mágoa. Ou comparando o que ganhamos em permanecer ali sozinhos com o que perdemos por não estar com ela.

Mas não se pode condescender ou disfarçar. Para haver respeito, temos de nos fazer respeitar. Tem de ficar tudo dito, exprimido com o devido amuo de parte a parte, até se tornar na conversa abençoada acerca de quem é que gosta menos do outro.Há conflitos irresolúveis que chegam para ginasticar qualquer casal apaixonado sem ter de inventar outros. Assim como o primeiro dever do médico é não fazer mal ao doente, o primeiro cuidado de um casamento feliz é não inventar e acrescentar conflitos desnecessários.

No dia-a-dia, é preciso haver arenas designadas onde possamos marrar uns com os outros à vontade. No nosso caso, é a cozinha. Discutimos cada garfo, cada pitada de sal, cada lugar no frigorífico com desabrida selvajaria.

Carregamos a cozinha de significados substituídos - violentos mas saudáveis e, com um bocadinho de boa vontade, irreconhecíveis. Não sabemos o que representam as cores dos pratos nas discussões que desencadeiam. Alguma coisa má - competitiva, agressiva - há-de ser. Poderíamos saber, se nos déssemos ao trabalho, mas preferimos assim.

A cozinha está encarregada de representar os nossos conflitos profundos, permanentes e, se calhar, irresolúveis. Não interessa. Ela fornece-nos uma solução superficial e temporária - mas altamente satisfatória e renovável. Passando a porta da cozinha para irmos jantar, é como se o diabo tivesse ficado lá dentro.

Outro coliseu de carnificina autorizada, que mesmo os casais que não podem um com o outro têm prazer em frequentar, é o automóvel. Aí representamos, através da comodidade dos mapas e das estradas mesmo ali aos nossos pés, as nossas brigas primais acerca das nossas autonomias, direcções e autoridades para tomar decisões que nos afectam aos dois, blá blá blá.

Vendo bem, os casamentos felizes são muito mais dramáticos, violentos, divertidos e surpreendentes do que os infelizes. Nos casamentos infelizes é que pode haver, mantidas inteligentemente as distâncias, paz e sossego no lar."


in "Jornal Público"
Miguel Esteves Cardoso

19 de Novembro

"Determinemos, agora, quais são os limites e, por assim dizer, os termos da amizade. Encontro aqui três opiniões diferentes, das quais não aprovo nenhuma: a primeira deseja que sejamos para os nossos amigos, assim como somos para nós mesmos; a segunda, que a nossa afeição por eles seja tal e qual à que eles têm por nós; a terceira, que estimemos os nossos amigos, assim como eles se estimam a si mesmos. Não posso concordar com nenhuma destas três máximas. Porque a primeira, que cada um tenha para com o seu amigo a mesma afeição e vontade que tem para si, é falsa. De facto, quantas coisas fazemos pelos nossos amigos, que jamais faríamos para nós! Rogar, suplicar a um homem que se despreza, tratar a outro com aspereza, persegui-lo com violência; coisas que em causa própria não seriam muito decentes, nos negócios dos amigos tornam-se muito honrosas. Quantas vezes um homem de bem abandona a defesa dos seus interesses e os sacrifica, em seu próprio detrimento, para servir os de seu amigo!

A segunda opinião é a que define a amizade por uma correspondência igual em amor e bons serviços. É fazer da amizade uma ideia bem limitada e mesquinha, sujeitá-la, assim, a um balanço entre a despesa e a receita. Parece-me que a verdadeira amizade é mais rica e mais generosa; não calcula com exactidão com medo de oferecer mais do que recebeu. Não se deve temer na amizade que se vá dar demais ou que se vá perder alguma coisa.

A terceira máxima é a mais perniciosa de todas: quer que se estime ao amigo tanto quanto ele se estima a si mesmo. Mas há bom número de pessoas, cuja alma tímida e desalentada não ousa aspirar a uma melhor sorte. Serão, então, os amigos obrigados a pensar como eles? Não deverão, ao contrário, esforçarem-se por encorajá-los, sugerindo esperanças e doces pensamentos? É necessário, portanto, prescrever outros limites para a amizade.

(...) Eis aqui os limites nos quais creio poder encerrar a amizade. Que os costumes dos amigos sejam sempre puros, que uma inteira comunhão de bens, de pensamentos, de vontade, exista entre eles. E mesmo se, por infelicidade, um deles necessita de auxílio do outro, em alguma empresa de justiça duvidosa, mas de onde dependa a sua vida ou a sua honra, pode-se, neste caso, desviar um pouco o caminho certo, contanto que daí não resulte a desonra. A amizade, com efeito, condescende até um certo ponto."

in 'Diálogo sobre a Amizade'
Marcus Cícero

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

18 de Novembro

Noutro dia vi uma criança da catequese com um livro infantil chamado "Jesus gosta de mim".

Achei bonito, e fez-me pensar... e pensar em tantas feridas emocionais que algumas crianças de hoje têm de passar (Desentendimentos ou discussões dos pais, abandono, vícios, abusos, negligências, etc). Reparei que provavelmente, quanto mais uma criança passar por situações terríveis destas, maior será a sua necessidade e sede de amor. Então ao ler um livro assim, e conhecer Jesus, ... que consolo!

Jesus veio para cada um de nós, não desprezando os pobres, pecadores, drogados, prostitutas, viciados, criminosos, bebedos, mas sobretudo para esses. E quanto não devem estar próximas dele as crianças filhas destes pais: Por Jesus sofrer ao lado delas.

O reconhecimento da nossa miséria suscita misericórdia. A auto-suficiência não nos dá espaço a isso.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

17 de Novembro

O post de hoje é apenas um pedido sincero. A quem ler isto, peço por favor que reze com força e querer a Deus pelo filho pequenino de um amigo meu, que está no hospital. Sem mais a acrescentar por hoje. Muito obrigado...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

16 de Novembro

"A Virtude Pura não Existe nos Dias de Hoje

Numa época tão doente como esta, quem se ufana de aplicar ao serviço da sociedade uma virtude genuína e pura, ou não sabe o que ela é, já que as opiniões se corrompem com os costumes (de facto, ouvi-os retratarem-na, ouvi a maior parte glorificar-se do seu comportamento e formular as suas regras: em vez de retratarem a virtude, retratam a pura injustiça e o vício, e apresentam-na assim falsificada para educação dos príncipes), ou, se o sabe, ufana-se erradamente e, diga o que disser, faz mil coisas que a sua consciência reprova. (...) Em tal aperto, a mais honrosa marca de bondade consiste em reconhecer o erro próprio e o alheio, empregar todas as forças a resistir e a obstar à inclinação para o mal, seguir contra a corrente dessa tendência, esperar e desejar que as coisas melhorem."

in 'Ensaios - Da Vaidade'
Michel de Montaigne

15 de Novembro

"Mérito e Auto-Suficiência

Só os baixos méritos podem ser enumerados. Temei, quando os vossos amigos vos disserem o que fizeste bem e narrarem tudo; mas quando permanecerem com olhares incertos e tímidos de respeito e certo descontentamento e silenciarem por muitos anos a sua opinião, podeis começar a ter confiança. Os que vivem para o futuro devem parecer egoístas aos que vivem para o presente. (...) A face que se me apresenta o carácter é a auto-suficiência. Reverencio a pessoa que é muito rica de carácter, porque não posso concebê-la solitária, ou pobre, ou exilada, ou infeliz, ou protegida, mas um eterno protetor, benfeitor e bem-aventurado. O carácter é centralidade, impossibilidade de ser deslocado ou posto à margem. Um homem deve dar-nos a ideia de massa.

A sociedade é frívola e divide o seu dia em fragmentos, a sua conversação em cerimónias e derivativos. Mas visitando um homem talentoso, considerarei perdido o meu tempo se se limitar a amabilidades e cerimónias; antes, ele deverá saber colocar-se solenemente no seu lugar e deixar-me julgar, por assim dizer, a sua resistência; saber que encontrei um valor novo e positivo! - grande deleite para nós ambos. Já é muito ele não aceitar as opiniões e usanças convencionais. Esse não-conformismo servirá de aguilhão e lembrança e qualquer pesquisador terá que ouvi-lo, em primeiro lugar. "

in 'O Carácter'
Ralph Waldo Emerson

domingo, 14 de novembro de 2010

14 de Novembro



13 de Novembro


Não tenho muito jeito para ser católica. Felizmente, parece-me que é necessária esta falta de jeito, ou auto-suficiência, para o ser. Às vezes quando penso em me por a rezar, caio na mania de uma certa "programação prévia", e depois não me sai nada, porque seriam demasiadas as coisas que devia dizer. Preciso de me lembrar que é preciso despir-me da técnica antes. E apenas expor-me, e deixar que seja Ele a rezar em mim.

sábado, 13 de novembro de 2010

12 de Novembro


Muitas vezes lembro-me de um amigo de infância que o Senhor já o chamou à Sua presença. Porque o chamou tão cedo? E porque ainda não me chamou a mim?

Penso que não devemos ter medo de ir ter com o Senhor. Aliás, se ainda estamos por aqui, é porque Ele quer-nos cá. Através do nosso ser, das nossas misérias e virtudes, Deus pode fazer a diferença e fazer maravilhas. Basta que nós deixemos que Ele actue em nós.

Deus chama-nos a ser felizes já na Terra. Não há melhor maneira de sentirmos realizados e felizes, do que estar na "Verdade". Ele é "o Caminho, a Verdade e a Vida".

Penso que o Céu é passar a eternidade com Aquele que muito nos ama. Se assim é, podemos já viver o Céu, de alguma maneira, aqui na Terra.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

11 de Novembro

O Evangelho de ontem, Quarta-feira, falava daqueles dez leprosos que iam, a mando de Jesus, a caminho de um templo e de repente ficaram curados. Destes dez, só um voltou atrás para agradecer.

Pensava de mim para mim: porque é a gratidão (para São Lucas, pelo menos) tão importante? Porque é que não chegou para aqueles dez leprosos pedir uma cura e por-se a caminho como lhe foi mandado?

A questão aqui não é a da cura física, mas a da ingratidão destes dez homens, que deixaram de ser leprosos mas não se tornaram realmente homens, porque não deixaram que entrasse dentro de si o que de mais interior trazia esta cura exterior. Tiveram lepra e ficaram curados, mas continuaram o caminho para longe de Jesus, como se nada tivesse mudado, porque nada mudou realmente. O milagre da cura não está nestes nove, mas sim naquele outro homem que voltou atrás para agradecer a Jesus e "louvar a Deus em altos brados": porque este, sim, percebeu o quanto lhe tinha sido dado e como era ao mesmo tempo estranho e maravilhoso este milagre. E face à misericórdia e ao amor deste Homem, Jesus, como não voltar atrás e alegrar-se em alta voz? Quase que posso adivinhar que nada na vida deste homem foi jamais igual.

A gratidão é liberdade. Liberdade para amar. Liberdade para ser quem eu sou porque tudo me foi dado. Gratidão para deixar que tudo, difícil ou fácil, entre dentro de mim e seja lugar de Deus.

Obrigada.

10 de Novembro


O Homem do Saldanha morreu. Também conhecido por "o Senhor do Adeus", João dedicava o tempo a cumprimentar desconhecidos, com acenos e sorrisos. Era um verdadeiro ex libris da cidade de Lisboa, levando a alegria ao Restelo de dia e à praça do Saldanha de noite.

A simpatia do Homem do Saldanha quebrava o gelo e obrigava-nos a sair do conforto do anonimato, desta indiferença social que a cidade teima em nos impor. Diz a gente que este senhor cumprimentava os desconhecidos porque se sentia só. Podemos julgar que a sua postura no dia-a-dia era fora do normal, mas isso não quer dizer que ele não tivesse toda a razão em encarar a vida assim. Penso até que tinha. E parecia ser, acima de tudo, um homem genuíno e bondoso.

Bastantes foram os que insultaram João à noite, já com os copos, e muitos o consideraram maluco. Não sei se alguém alguma vez lhe bateu, mas não me admiro (não sei porquê, o episódio até me está a soar). Mas o "Senhor do Adeus" era inofensivo e demonstrava o seu afecto para com todo e cada desconhecido que passasse por ele, mesmo ao mais carrancudo, talvez principalmente a esse. A maioria das pessoas cumprimentava-o. Alguns ousaram falar-lhe, conhecê-lo, ser amigo. Dois amigos iam todos os Domingos com João ao cinema, e mantiveram um blog de crítica de cinema em conjunto, até ontem. A vida deste senhor dava um fado, dava e deu. Inspirou esta bela interpretação em dueto de Carlos do Carmo e Marco Rodrigues.

O Homem do Saldanha chamava-se João Manuel Serra. Morreu neste dia dez, aos 79 anos. Que descanse em paz e que Deus o acolha no Céu, onde sabemos que a solidão não existe mais. E possamos também nós aprender a ser mais "loucos", como ele foi. Como ele é.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

9 de Novembro

"O Rabi Abraham Yeshaya Karelitz punha-se sempre de pé, solenemente, na presença de um mongolóide: se o Eterno o privou do poder de estudar a fundo a Torá, dizia ele, é porque já é assaz perfeito aos seus olhos"

Fabrice Hadjadj

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

8 de Novembro

Meu irmão da rua, envergonho-me das vezes em que te ignoro, de entre as tantas que nos cruzamos. Já soube o teu nome, mas não liguei e esqueci-me. Sou igual a ti, mas por vezes ajo como se fosse superior, e é nesses momentos que me torno miserável. Fico arrogante, encho os pulmões de ar, mas eles não aguentam muito tempo, o ar escapa-se, e eu volto a ficar a nu, como tu. Às vezes tenho um aspecto mais arranjado, e cheiro melhor porque tive a oportunidade de tomar um banho de água quente em casa, neste dia frio de Inverno. Mas de que me serve ter mais músculos, mais beleza aparente, e mais cursos universitários que tu, meu irmão... se tu vês Cristo em mim e eu nem reparo que Ele está em ti? Faltam-te pernas, mas tens as asas da liberdade e voas. Já eu, tenho as duas pernas: uma em cada grilheta. Assim que eu vir Deus em ti, talvez te preste mais atenção e aprenda algo. Pode ser que me ajudes a ser uma pessoa melhor.

Quando alguém nos pede uma coisa, não lhe estamos apenas a fazer um favor... é que, na verdade, precisamos mesmo um do outro.

7 de Novembro

Tudo faz sentido, é só uma questão de tempo, silêncio e paz para o entender. Nem tudo o que é agradável é bom. Nem tudo o que é bom se nota. E, tal como escrevia Saint-Exupéry, o essencial é invisível aos olhos.

6 de Novembro

Já não me lembro de quem era esta frase, desculpem não me lembrar, pensava que era de S. Francisco de Xavier, mas agora acho que pode ser de Santa Teresinha do Menino Jesus, ou de ainda outra santa pessoa. Se souberem, digam, que eu acrescento. Mas principalmente importa é o que a frase nos transmite e nos faz pensar. Para mim faz muito sentido:

Para Deus sobe-se descendo.

5 de Novembro

Às vezes, o estudo ou o trabalho não nos corre da melhor maneira. Ou podemos mesmo apanhar febre ou outras contradições.

Ainda assim, Deus continua a nosso lado e não nos abandona.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

4 de Novembro

Pelo dom do Espírito caminharemos

"Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse. " (Jo 14, 25-26)

"Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capaz de as compreender por agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de vir. Ele há-de manifestar a minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer. Tudo o que o Pai tem é meu; por isso é que Eu disse: 'Receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer'." (Jo 16, 12-15)

"Mas o fruto do Espírito é: caridade, amor, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito." (Gálatas 5:19-26)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

3 de Novembro

Só vale a pena ver a partir dos 2 minutos mais ou menos, mas o filme inteiro vale muito ver: "The Ultimate Gift".

terça-feira, 2 de novembro de 2010

2 de Novembro

"Eu próprio tentei, noutro tempo, ser imoralista ao jeito do diabo. Incriminava sobretudo os preceitos judeo-cristãos de serem repressivos e antiquados. Ora, um dia, ao acusar, mais uma vez, um «pequeno-burguês» de ser «moralizador», ele baixou-me a proa, não como uma réplica sublime, mas com a fé simples dos pátios de recreio: «Quem o diz é quem o é!» Que fazia eu, senão moralizar ainda mais?"

Fabrice Hadjadj

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

1 de Novembro

31 de Outubro


Algumas [pessoas] já nascem quase mortas, ou mortas de todo, mas a tal ponto carecem de imaginação que nem dão por isso e insistem em respirar como se estivessem vivas.

José Eduardo Agualusa, in "Milagrário Pessoal"

30 de Outubro

O amor, para ser amor, não pode ser passivo. O amor é activo. Nunca te esqueças disto.