quinta-feira, 11 de novembro de 2010

10 de Novembro


O Homem do Saldanha morreu. Também conhecido por "o Senhor do Adeus", João dedicava o tempo a cumprimentar desconhecidos, com acenos e sorrisos. Era um verdadeiro ex libris da cidade de Lisboa, levando a alegria ao Restelo de dia e à praça do Saldanha de noite.

A simpatia do Homem do Saldanha quebrava o gelo e obrigava-nos a sair do conforto do anonimato, desta indiferença social que a cidade teima em nos impor. Diz a gente que este senhor cumprimentava os desconhecidos porque se sentia só. Podemos julgar que a sua postura no dia-a-dia era fora do normal, mas isso não quer dizer que ele não tivesse toda a razão em encarar a vida assim. Penso até que tinha. E parecia ser, acima de tudo, um homem genuíno e bondoso.

Bastantes foram os que insultaram João à noite, já com os copos, e muitos o consideraram maluco. Não sei se alguém alguma vez lhe bateu, mas não me admiro (não sei porquê, o episódio até me está a soar). Mas o "Senhor do Adeus" era inofensivo e demonstrava o seu afecto para com todo e cada desconhecido que passasse por ele, mesmo ao mais carrancudo, talvez principalmente a esse. A maioria das pessoas cumprimentava-o. Alguns ousaram falar-lhe, conhecê-lo, ser amigo. Dois amigos iam todos os Domingos com João ao cinema, e mantiveram um blog de crítica de cinema em conjunto, até ontem. A vida deste senhor dava um fado, dava e deu. Inspirou esta bela interpretação em dueto de Carlos do Carmo e Marco Rodrigues.

O Homem do Saldanha chamava-se João Manuel Serra. Morreu neste dia dez, aos 79 anos. Que descanse em paz e que Deus o acolha no Céu, onde sabemos que a solidão não existe mais. E possamos também nós aprender a ser mais "loucos", como ele foi. Como ele é.

Sem comentários:

Enviar um comentário