quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

30 de Dezembro

Conversar com Deus não é só desabafar, nem muito menos é falar para a parede.

Deus escuta-nos, apesar de que sabe aquilo que vamos dizer antes de o dizermos e sabe aquilo que pensamos antes até de o pensarmos. Deus sabe tudo e conhece-nos como ninguém, por isso fala-nos com a verdade e aconselha-nos com sabedoria.

Então, rezar - que é conversar com Deus -, é não só aquilo que dizemos e sentimos, mas também (e tão ou mais importante) aquilo que Deus nos diz.

E não é preciso ouvir vozes para saber quando Deus nos fala, embora até isso seja possível.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

29 de Dezembro


"Valeu-me a pena viver? Fui feliz, fui feliz no meu canto, longe da papelada ignóbil. Muitas vezes desejei, confesso-o, a agitação dos traficantes e os seus automóveis, dos políticos e a sua balbúrdia - mas logo me refugiava no meu buraco a sonhar. Agora vou morrer - e eles vão morrer.

A diferença é que eles levam um caixão mais rico, mas eu talvez me aproxime mais de Deus. O que invejei - o que invejo profundamente são os que podem ainda trabalhar por muitos anos; são os que começam agora uma longa obra e têm diante de si muito tempo para a concluir. Invejo os que se deitam cismando nos seus livros e se levantam pensando com obstinação nos seus livros. Não é o gozo que eu invejo (não dou um passo para o gozo) - é o pedreiro que passa por aqui logo de manhã com o pico às costas, assobiando baixinho, e já absorto no trabalho da pedra.

Se vale a pena viver a vida esplêndida - esta fantasmagoria de cores, de grotesco, esta mescla de estrelas e de sonho? ... Só a luz! só a luz vale a vida! A luz interior ou a luz exterior. Doente ou com saúde, triste ou alegre, procuro a luz com avidez. A luz é para mim a felicidade. Vivo de luz. Impregno-me, olho-a com êxtase. Valho o que ela vale. Sinto-me caído quando o dia amanhece baço e turvo. Sonho com ela e de manhã é a luz o meu primeiro pensamento. Qualquer fio me prende, qualquer reflexo me encanta. E agora mais doente, mais perto do túmulo, busco-a com ânsia."

in " Se Tivesse de Recomeçar a Vida"
Raul Brandão (1967-1930)

28 de Dezembro

"Não te deixes distrair com os incidentes que te chegam de fora! Reserva-te um tempo livre para aprender qualquer coisa de bom e deixa-te de flanar sem rumo! Já é tempo de te guardares doutra sorte de vagabundeio. Bem loucos, com efeito, são aqueles que, por serem topa-a-tudo, sentem o cansaço da vida e não têm um fim a que dirijam os seus esforços e, para o dizer de uma vez, as suas ideias."

in "Pensamentos"
Marco Aurélio (Imperador Romano)

27 de Dezembro

"No reino da Natureza dominam o movimento e o agir. No reino da liberdade dominam a aptidão e o querer. O movimento é perpétuo e, sendo favoráveis as circunstâncias, manifesta-se necessariamente nos fenómenos. As aptidões, desenvolvendo-se embora em correspondência com a Natureza, têm contudo que ser postas em exercício por parte da vontade para poderem elevar-se gradualmente. É por isso que nunca temos no exercício livre da vontade a mesma certeza que temos na autonomia do agir natural; este último é qualquer coisa que se produz a si mesma enquanto que o primeiro é produzido.

O exercício da vontade, para ser perfeito e eficaz, tem que se adequar: no plano moral, à consciência - a uma consciência sem erro -, e, no domínio das artes, à regra - a uma regra que em nenhum lado está enunciada. A consciência não precisa de nenhum patrocínio, porque tem tudo o que lhe é necessário e porque só tem que ver com o mundo pessoal interior. O génio também não precisaria de nenhuma regra, mas, uma vez que a sua eficácia se dirige para o exterior, está na dependência de múltiplas contingências materiais e temporais, não lhe sendo possível escapar a erros que daí decorrem. E é assim que tudo o que diz respeito a qualquer arte, desde a condução de uma orquestra até à composição de um poema, desde a produção de uma estátua até à execução de um quadro, nos parece, do princípio ao fim, tão espantoso e tão inseguro."

in "Máximas e Reflexões"
Johann Wolfgang von Goethe

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

26 de Dezembro

Hoje trago um conto de Natal inspirador. Vale a pena guardar 25 minutos para o ver, chamar a família, ou quem estiver perto, e nem sequer daremos pelo tempo passar. Esta é uma excelente versão Disney de 1983 do "Um conto de Natal" de Charles Dickens.




25 de Dezembro

Como pode Jesus nascer mais um pouco dentro de mim? Tenho tempo para Deus? Arranjo-lhe o melhor lugar da minha vida, ou continuo a sacudi-lo para a manjedoura?

24 de Dezembro

No outro dia vi na televisão o director de comunicação dos CTT Correios a falar dos milhares de cartas que as crianças portuguesas escrevem no Natal a pedir presentes, seja ao Menino Jesus, seja ao Pai Natal (o nosso São Nicolau). No fim, esse senhor quis resumir esta época festiva a um simplista sound bite: "Natal é magia".

Claro que o sentido que o director dos CTT quis dar à expressão "Natal é magia" era que o Natal tem um encanto especial, que os presentes embrulhados são surpresa, e que há um mistério que provoca ânsia e adrenalina pela descoberta das novidades. Agora, o "Natal é magia"? Não. Antes pelo contrário, o Natal de Jesus Cristo trouxe o fim da magia!

Os Magos que vieram do Oriente (magos!), seguiram a estrela (astrologia!), trouxeram ao Menino Jesus presentes dignos de Deus, de Rei e de Homem, adoraram-n'O (reconhecer em Cristo a Verdade e o poder de Deus) e voltaram às suas terras por outro caminho (e não o antigo caminho, o da magia e das superstições). Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida. Com Ele acaba-se o poder das trevas.

O Natal não é magia, não. O Natal é um encanto, verdadeiro, pelo mistério do amor de Deus que se fez Homem para nos salvar. Diz-se que a magia e as superstições são coisas do diabo, e até são, no sentido em que nos aprisionam, nos tornam mais escravos, escravos de crenças e do acaso. Já a Verdade, liberta.

Deus libertou-nos de várias prisões, entre elas a da magia e das superstições. E mesmo que tenhas ainda algumas batalhas a travar dentro de ti, não te esqueças que tens Deus sempre ao teu lado e que só Ele basta para poderes vencer.

23 de Dezembro

Dia 23 de Dezembro é um dia especial para mim porque celebro a vida de três maneiras diferentes: um irmão que faz anos; um jantar tradicional de amigos, que se repete todos os anos com os mesmos de sempre; um grande amigo e uma grande amiga que fazem anos de namoro (e que em breve se irão casar). Celebro a vida que começou, a vida que desfruto, e a vida do que há-de vir. Bendito dia 23 de Dezembro, que todos os anos é festa, uma bênção e uma alegria. Graças a Deus, tudo graças a Deus!

22 de Dezembro

Deus é bom e é fiel.

"Não há nada que devamos ter medo. Ele morreu na cruz por nós, ainda que injustamente"

Ele nos assegurou que "estará connosco até ao fim dos tempos."

sábado, 25 de dezembro de 2010

21 de Dezembro

Os Magos chegam a Jerusalém. E lá a estrela desaparece. Levados diante de Herodes, dizem que procuram o Rei dos Judeus, que acabou de nascer. Herodes fica perturbado e com ele, toda a Jerusalém. Herodes, consultando os príncipes dos sacerdotes e escribas, indica aos magos que é em Belém de Judá que nasceu o Menino. Pediu-lhes para que o avisassem quando encontrassem o Menino, para que ele fosse também adorá-Lo. Herodes assim o pedia, para matar Jesus. Mais tarde, José e a família tiveram que fugir, para que Herodes não matasse o Menino.

Hoje, concerteza que também existem outros Herodes. Um grande mistério este, de alguém querer matar "o Caminho, a Verdade e a Vida". Peçamos a Deus, luz divina para estes e que os seus Anjos da Guarda levem-os até junto de Deus.

Nasceu Jesus! Os Anjos do Céu entoam um cantico de louvor, e os magos O adoram. Há maior felicidade que a humanidade pode ter!? Jesus quis nascer na pobreza extrema. Na verdade, a verdadeira riqueza não é exterior mas sim interior. Veio para dar a luz a todos os homens. Veio, ainda que soubesse que muitos O iriam rejeitar e até maltratá-Lo. Veio por ti, por mim, por cada homem. Veio libertar o homem da escravidão do pecado, para que podessemos ser filhos de Deus.

PBP

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

20 de Dezembro


"O Verbo encarnou e habitou entre nós", diz S. João no prólogo do seu Evangelho.

Neste Natal 2010 queremos dar graças a Deus por esta maravilha de se ter feito um de nós, para caminhar connosco e nos conduzir à felicidade para a qual fomos criados. Mas queremos agradecer-lhe também este chamamento que nos fez a sermos, dia a dia, arautos desta vinda, portadores deste Verbo junto de tantos e tantos dos Seus filhos.

Não podemos passar estas Festas sem partilhar convosco a alegria que irradia da gruta de Belém. Desejamo-vos um Santo e feliz Natal e que a Luz que iluminou as trevas brilhe nos vossos corações ao longo de todo o ano que se aproxima.


retirado d'O Evangelho Quotidiano


Esta mensagem fez eco em mim e por isso quis deixá-la aqui, para vocês, meus amigos em Deus. Um Santo Natal para todos, e que este desejo de Santidade nos acompanhe a todos, em Cristo, no Ano Novo que se aproxima. Um abraço :)

domingo, 19 de dezembro de 2010

19 de Dezembro

"a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel"

Emanuel, que quer dizer Deus connosco. Connosco, em cada milénio, século, dia, segundo, casa, vida. De cada um, a cada instante.No concreto de cada momento nosso.

Esta semana que passou, houve um dia que precisei de uma coisa muito específica. E pedi-a a Jesus. Ao fim do dia, essa coisa não só aconteceu, como aconteceu por três vezes (por três pessoas diferentes). Deus está sempre connosco!

"Eis que Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo" (Mt 28, 20)

18 de Dezembro

Foi então que perguntaram à Carolina,
- Qual é, afinal, o sorriso mais bonito?
- É aquele que tem rugas - respondeu, sorrindo.

17 de Dezembro

Hoje, na Igreja de Santo António em Lisboa, faltava o Menino Jesus. "Ainda não nasceu", fazemos de conta. Então, no Seu lugar entre Maria e José, estava uma Bíblia. A Palavra de Deus, que se cumpre sempre. O Verbo se fez Homem, e Ele habita entre nós. É isso que celebramos nestes dias.

sábado, 18 de dezembro de 2010

16 de Dezembro

"A vida caminha precipitadamente. Perseguimos alguns esquemas flutuantes ou somos perseguidos por algum medo ou autoridade atrás de nós. Mas, se, de repente, encontramos um amigo, paramos; o nosso calor e a nossa pressa tornam-se ridículos. Ora a pausa, ora o domínio são necessários e também a força para encher o momento dos eflúvios do coração. O momento é tudo, em todas as relações nobres. Uma pessoa divina é a profecia do espírito; um amigo é a esperança do coração. A nossa ventura espera pela concretização destas duas em uma.

Os séculos estão a dilatar essa força moral. Toda a força é a sombra ou o símbolo daquela. A poesia é alegre e forte quando extrai nessa fonte a sua inspiração. Os homens só inscrevem os seus nomes no mundo quando estão cheios deste. A história tem sido ignóbil; as nossas nações têm sido a gentalha; nunca vimos um homem: essa forma divina que ainda não conhecemos, mas apenas o sonho e a profecia de tal; não conhecemos os modos majestosos que lhe são peculiares e que acalmam e exaltam o observador.

Um dia veremos que a energia mais particular é a mais pública, que a qualidade afina com a quantidade e a grandeza de carácter actua na sombra e socorre aos que nunca a viram. O que de grandeza já apareceu são os princípios e estímulos para que prossigamos nesse sentido. A história daqueles deuses e santos que o meundo tem escrito, e depois adorado, são provas de carácter."

in 'O Carácter'
Ralph Waldo Emerson

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

15 de Dezembro

Na História há o a.C. e o d.C.: antes de Cristo e durante Cristo. Durante, sim, e não depois! Não nos esqueçamos que Cristo vive. Estamos quase a celebrar esse preciso momento em que tudo mudou para sempre, tanto que passou a ser o marco a partir do qual contamos o tempo: a.C. e d.C..

14 de Dezembro

"A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo."

Alberto Caeiro

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

13 de Dezembro

Estás cá de passagem! Disso não temos dúvidas.


"Faz todo o bem que te é possível", dizia a Irmã Mary Jane Wilson, fundadora das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias.

Quando o Senhor nos chamar, levaremos connosco o bem que fizemos e o bem que não chegámos a fazer

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

12 de Dezembro

Não sejas obcecado com o poder. Sê obcecado pela Verdade.

É importante ter em mente este confronto "Verdade versus Poder", porque é precisamente neste conceito que se distingue a Igreja de alguns dos seus inimigos, nomeadamente a maçonaria. Há quem faça a confusão, e diga que Igreja e maçonaria têm valores comuns, como o amor, a fraternidade, a liberdade. Mas neste caso, estas palavras são ocas, pois, com as mesmas letras e sons, são no fim de contas recheadas por diferentes significados.

Abre parêntesis.

O amor entre namorados, por exemplo, é muito diferente se o entendermos de um prisma do poder, em vez de o vivermos a partir da verdade. Do ponto de vista do poder, o amor é possuído: "ela é minha, é a minha namorada"; quando na verdade, ela não é escrava de ninguém, mas digna e livre, merecedora de todo o nosso respeito. Se o rapaz olhar para a sua namorada com verdade, mais facilmente a ama. Se a vir como posse, não parará de fazer exigências e de a tentar "domesticar".

Fecha parêntesis.

Jesus Cristo disse e nós acreditamos, que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Por isso, não cedas na Verdade. Busca-a incansavelmente, sem nunca te dares por satisfeito. Tem a coragem de mergulhar as raízes das tuas convicções no amor de Deus, e então verás como podes ser feliz, até na dor.

Verás também como as demais seduções são ervas daninhas que nos secam e fazem das nossas vidas um campo estéril, sem sentido, e mais tarde como um saco vazio que só se enche de tristeza, sem sabermos como nem porquê.

Só em Deus podemos ser felizes.

O poder isola, a Verdade une.

11 de Dezembro

É moda, já faz uns anos, a expressão de ânimo/conselho "sê tu próprio(a)", ou "sê tu mesmo(a)". Muitos jovens que eu conheço se cumprimentam ou despedem com um "fica bem, nunca mudes". E por outro lado, temos também presente que Deus gosta de cada um de nós tal como somos.

Cuidado com isto.

Deus criou em cada um e uma de nós, pessoas únicas e irrepetíveis. Deu-nos um conjunto de dons e características que desenvolvemos e combinamos de uma forma completamente original, a que chamamos também de personalidade.

Mas, é claro que Deus não fica contente com os nossos erros e defeitos. O facto de Deus amar cada um e uma de nós de forma especial e incondicional, não exclui a nossa obrigação de melhorar e crescer na santidade.

domingo, 12 de dezembro de 2010

10 de Dezembro

Deus já veio para nos salvar. Agora sim, tu consegues. As tentações e outros obstáculos aparecem-te no caminho, mas todas essas dificuldades só tornam a vitória mais saborosa.

Para vencer tens de lutar, pedir a Deus força, lembrar-te que Ele se sacrificou por nós e ressuscitou para nos salvar. Com Deus, há sempre esperança, pois há sempre uma maneira de vencer. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Deus é amor e quer-nos muito a seu lado. Mas não nos obriga, deu-nos a liberdade de O escolher ou de O rejeitar.

Deus deu-te tanta liberdade, que inclusive te deu a liberdade de escolheres a escravidão. A escravidão às vezes maquilha-se e parece bonita, apetecível, tentadora. A escravidão é sem dúvida o caminho mais fácil. Mas a liberdade e o amor a Deus é o que fará de ti um Homem (ou uma Mulher).

Não tenhas medo, Deus é o melhor que nos aconteceu. Ser Santo é ser feliz. Vem connosco.

sábado, 11 de dezembro de 2010

9 de Dezembro


"Nunca se pratica o mal tão plena e alegremente como quando praticado por [falsas] convicções religiosas".

(frase de Pascal, retirada do filme Des hommes et des Dieux)

Ao olhar para este filme não pude deixar de pensar que o fundamentalismo está ali apenas a meio passo de mim. Basta um olhar de desdém sobre uma outra religião convencida de que a minha é que é o caminho verdadeiro da salvação; ou a recusa de ajuda a quem necessita porque me acho no direito de julgar... quantas coisas supostamente boas nas quais digo que acredito e as quais prego, a mim e aos outros, sem me questionar se a minha vida e as minhas acções falam delas. A única fé que vale a pena é a fé que ama: ama a Deus, que é o Amor, e por Ele renuncia a tudo o que escraviza, e ama o outro sem reservas, até ao fim.


Um filme mesmo bom, que dá uma outra visão sobre o Islamismo e toca no essencial... fica o convite =)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

8 de Dezembro

Que já fiz eu para fazer com que Jesus nasça no meu coração neste Natal? Serei porventura, mais uma daquelas pessoas, que nega hospedagem a Santa Maria e a São José, aquando está para nascer o Senhor?

Faltam 2 semanas para a celebração da vinda do Senhor. Ainda vamos a tempo, de preparar e de querer receber o Senhor em nossos corações! Graças a Deus!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

7 de Dezembro


Como nos ama o nosso Deus, que não só veio até nós, como torna possível que nós O recebamos em nós mesmos, na Eucarístia!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

6 de Dezembro


Ontem (6 de Dezembro) não consegui ir à missa de sétimo dia do Avô de um amigo meu e por isso preparei-me para ir a uma missa semanal em Lisboa. Já era tarde e escolhi ir a São Nicolau às 10h. Estava-me a sentir bem pelo que estava a fazer e apetecia-me realmente ir à missa.
Quando cheguei à Igreja, benzi-me como sempre e fui-me sentar à espera que a missa começasse. Esperei uns dez minutos distraída a rezar e a olhar para a Igreja que estava cheia de flores, velas e para o presépio. Só então reparei que estava o Santíssimo exposto.
Não sei porquê mas senti uma alegria e ajoelhei-me imediatamente a rezar o terço, quando acabei percebi que não ia haver missa mas fui-me embora muito mais contente do que cheguei.
No caminho para casa fui ainda a rezar e fiquei ainda mais feliz quando subi o elevador da Glória, enlatada no meio de espanhóis a cantar e bater palmas!

domingo, 5 de dezembro de 2010

5 de Dezembro


"Porque ficas de braços cruzados, se o Maior Homem do mundo morreu de braços abertos"?

sábado, 4 de dezembro de 2010

4 de Dezembro

"Se os outros se observassem a si próprios atentamente como eu achar-se-iam, tal como eu, cheios de inanidade e tolice. Não posso livrar-me delas sem me livrar de mim mesmo. Estamos todos impregnados delas, mas os que têm consciência de tal saem-se, tanto quanto eu sei, um pouco melhor.

A ideia e a prática comuns de olhar para outros lados que não para nós mesmos de muito nos tem valido! Somos para nós mesmos objecto de descontentamento: em nós não vemos senão miséria e vaidade. Para não nos desanimar, a natureza muito a propósito nos orientou a visão para o exterior. Avançamos facilmente ao sabor da corrente, mas inverter a nossa marcha contra a corrente, rumo a nós próprios, é um penoso movimento: assim o mar se turva e remoinha quando em refluxo é impelido contra si mesmo.

Cada qual diz: «Olhai os movimentos do céu, olhai para o público, olhai para a querela deste homem, para o puso daquele, para o testamento daqueloutro; em suma, olhai sempre para cima ou para baixo, ou para o lado, ou para a frente, ou para trás de vós.»

O mandamento que na antiguidade nos preceituava aquele deus de Delfos ia contra esta opinião comum: «Olhai para dentro de vós, conhecei-vos, atende-vos a vós mesmos, reconduzi a vós próprios o vosso espírito e a vossa vontade que se consomem noutras partes; vós vos esvaziais e desperdiçais; concentrai-vos em vós mesmos, refreai-vos; atraiçoam-vos, dissipam-vos e roubam-vos a vós mesmos. Não vês que este mundo tem as miradas todas crivadas no interior e os olhos abertos para se contemplar? No teu caso, tudo é vaidade, dentro e fora, mas é menor vaidade se for menos extensa. Salvo tu, ó Homem», dizia esse deus, «cada criatura primeiro se estuda a si própria e, de acordo com as suas necessidades, impõe limites aos seus trabalhos e desejos. Não há nenhuma criatura tão vã e tão necessitosa quanto tu, que abarcas o universo: és o escrutador sem conhecimento, o magistrado sem jurisdição e, no fim de contas, o parvo da farsa.» "

in 'Ensaios - Da Vaidade'
Michel de Montaigne

3 de Dezembro

"No contexto das celebrações do centenário da República, fica aí uma reflexão sobre o pensamento do Padre Joaquim Alves Correia, a figura católica mais lúcida da primeira metade do século XX em Portugal. Republicano convicto, morreu no exílio, em 1951 - a ocasião próxima foi a publicação do artigo "O mal e a caramunha", que pode ler-se na Antologia que preparei: Joaquim Alves Correia. Cristianismo e revolução.


Foi um precursor do Concílio Vaticano II. Chamavam-lhe o "Padre Larguezas", por causa de um livro admirável: A Largueza do Reino de Deus, que mostra como o Reino de Deus se estende para lá da Igreja. Muito considerado por ateus e agnósticos, como António Sérgio, que o admirava por ser um "padre cristão", ou Bento de Jesus Caraça, que o convidou para escrever De Que Espírito Somos, era um democrata e um pensador. O que hoje mais falta: pensar.


O seu pensamento gira à volta de alguns princípios fundamentais.

1. O princípio primeiro é o da Comunhão transcendente ou Transcendência comunional. No princípio, era a Vida em comunhão. Para o cristianismo, Deus não é o Motor imóvel, mas o Deus unitrino, o Deus Amor, que cria por amor.

Este princípio destrói toda a forma de totalitarismo e supera o niilismo. É preciso salvaguardar a Transcendência. De facto, no quadro da imanência, há sempre o perigo do totalitarismo: a totalidade seria plenamente cognoscível e quem detivesse a verdade toda deveria impô-la. A outra face do totalitarismo é o niilismo. E não é aí que estamos? Mas, se no princípio é a Transcendência comunional, a criação não é cega, tem um sentido.

2. Daqui, derivam todos os outros princípios. Em primeiro lugar, o princípio da liberdade: Deus cria a partir do nada por puro amor, não por necessidade.

3. Outro princípio é o da história, do progresso, da autonomia. Na criação por amor, há a afirmação da autonomia das realidades terrestres. A ciência, a política, a economia, a própria moral seguem as suas normas e regras, sem tutela da religião.

4. Impõe-se o princípio dos direitos divinos do ser humano. Deus não cria por causa dele, mas por causa do ser humano, do seu bem-estar e felicidade. Lá está a afirmação mais revolucionária da história: "O homem não é para o Sábado, mas o Sábado para o Homem". Mesmo as leis de Deus só valem se e na medida em que estão ao serviço da dignidade humana.

5. Segue-se, consequentemente, o princípio da consciência e da tolerância: o princípio do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, no qual se incluem também os ateus que sabem o que isso quer dizer.

6. Outro princípio: o da condenação das absolutizações históricas. A pretensão de realizar totalmente o Reino de Deus no tempo, sob forma religiosa ou secular, é uma tentação constante. Aí está a tentação de confundir o Reino de Deus com a política ou com o dinheiro ou com o sexo.


Ora, isso seria desdivinizar Deus, o que o cristianismo não permite.


A união destes dois princípios - o dos direitos divinos da pessoa, que faz com que todos os seres humanos devam ser respeitados e tenham o direito de participar em todos os domínios da vida como expressão da sua humanidade e para a sua realização, e o da condenação das absolutizações históricas - fundamenta a democracia pluralista, dado que nenhum partido pode ter a pretensão da realização plena e única do ser humano. Por outro lado, esta democracia não pode ser apenas de política formal, pois tem componentes económicas, sociais, ecológicas, etc., o que se traduz nos direitos humanos nas suas várias gerações. A democracia tem de ser política, económica, social, ecológica.


7 . Finalmente, o princípio do sim da esperança. Se Deus é amor, não abandona o ser humano, nem mesmo na morte.


Como disse D. António Ferreira Gomes: "É preciso que não morram no deserto as vozes que, vindas de longe, ainda encerram apelo válido para hoje e para amanhã."


in DN (04.12.2010)

Padre Anselmo Borges

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

2 de Dezembro

Advento - a aceitação da espera

O Advento convida-nos à conversão da nossa atitude fundamental face ao tempo. Alerta-nos para não nos gastarmos no esforço fútil de tentar vencê-lo, sacrificando constantemente a fruição do presente por um futuro sempre diferido e a que nunca chegamos. Em vez disso, pela aceitação serena da espera e a exploração da profundidade da expectativa, procura levar-nos à harmonia com o fluxo do tempo que vamos acolhendo e nunca podemos dominar. Desafia-nos a gozar do que já temos e, sem desistir dos nossos sonhos e desejos, antes pelo contrário, faz-nos perceber que não precisamos de ter imediatamente tudo o que desejamos, que a felicidade não está em transformar instantaneamente todo o desejo em realidade, mas em descobrir paulatinamente toda a espessura dos desejos mais fundos e deixar-se guiar por eles.
Esperar pelo que se deseja é oportunidade de aprofundar e purificar o desejo, de reconhecer a dimensão da falta sentida. Só valem verdadeiramente as coisas por que vale a pena esperar, mas só esperando por elas se descobre quanto valem verdadeiramente para nós. Como diz o Principezinho, “é o tempo que perdeste com a tua rosa que faz a tua rosa tão importante”. É na ausência sentida que se avalia a dimensão do desejado. Sem uma anterior convivência alargada com a necessidade, por não se ter chegado a advertir o tamanho do vazio que é preciso encher, qualquer satisfação será sempre superficial e por isso rapidamente descartada em favor da busca ávida de outra nova. Paradoxalmente, a espera, revelando-nos a dimensão da nossa indigência, é também aquilo que abre para a possibilidade de aproximação à plenitude profunda sustentadamente sentida e fruída.
A espera põe-nos em contacto mais próximo com aquilo de que precisamos mas que não depende de nós, que tem que ser aguardado. Aprender a esperar em paz é reconhecer sem ansiedade os nossos limites, a verdade da nossa realidade. A temporalidade do nosso ser é a experiência que mais imediatamente nos recorda que somos criaturas: recebemo-nos a nós mesmos e, portanto, o nosso viver, para ser conforme com a realidade que somos, tem que ser mais acolhimento e resposta que projecto e controlo.

Hermínio Rico, sj.

1 de Dezembro

Este Domingo que passou foi o primeiro Domingo do Advento. Já aqui se fez uma proposta de oração e contemplação. A minha proposta hoje queria ser um vídeo, uma música ou uma imagem, mas a incomensurável gama de clichés da época encurralaram-me o desejo de um pouco de novidade. Fica então um lugar meu conhecido onde costumo ir beber propostas - um vídeo, um poema, uma crónica de longe -, para quem tiver a sede ou a curiosidade duma viagem virtual a outras paragens espirituais. Bom começo de Advento :)

http://essejota.net/


30 de Novembro

A felicidade... incessantemente ao meu alcance

"O que mina e envenena, geralmente, a nossa felicidade, é sentir tão próximo o fim e o fundo de tudo o que nos atrai: sofrimento das separações e da usura, - angústia do tempo que passa, - terror perante a fragilidade dos bens possuídos, - decepção por se chegar tão depressa ao fim do que somos e do que amamos... Para quem descobriu, num Ideal ou numa Causa, o segredo de colaborar e identificar-se, de mais perto ou de mais longe, com o Universo em progresso, todas estas sombras se dissipam. Refluindo - com o fim de as dilatar e as consolidar, e nunca para as diminuir ou destruir - para a alegria de ser e a alegria de amar - a alegria de adorar comporta e traz na sua plenitude uma maravilhosa paz. O objecto que a alimenta é inesgotável, porque se confunde, sempre mais próximo, com a própria consumação do mundo à nossa volta. Escapa, por este modo, a toda a ameaça de morte e corrupção. Enfim, dum modo ou doutro, está incessantemente ao nosso alcance, dado que é a melhor maneira de o alcançarmos é, simplesmente, cada um no seu lugar, fazer aquilo que está ao seu alcance."


in P. Teilhard de Chardin, Sobre a Felicidade Sobre o Amor

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

29 de Novembro

Da proposta do São João de Brito para este Advento

"Ao ouvi-lo, Jesus ficou admirado e disse àqueles que O seguiam:
- Em verdade vos digo: Não encontrei ninguém em Israel com tão grande fé. Por isso vos digo: Do Oriente e do Ocidente virão muitos sentar-se à mesa com Abraão, Isaac e Jacob, no reino dos Céus."
Evangelho Mt 8, 5-11
O dom da Fé não conhece fronteiras, não tem eleitos, nem preferidos. É gratuito, universal e profundamente transformador. Acreditar e pôr em prética a mensagem de Jesus é o caminho da felicidade. Avida vivida com fé é a mesma, mas vivida de forma muito diferente. Aproveitar este Advento para fazer a minha fé crescer através da oração e da contemplação do que é a vontade do Senhor para a minha vida pode ser profundamente fecundo.

28 de Novembro

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
Guarda Senhor todos aqueles de quem gostamos e ja estão contigo.

Pai Nosso...
Avé Maria...
Avé Maria...
Avé Maria...

Glória ao Pai ao Filho e ao Espírito Santo,
Assim como era no princípio, agora e sempre. Amén.

sábado, 27 de novembro de 2010

27 de Novembro

"Observo em nós apenas uma única coisa que nos pode dar justa razão para nos estimarmos, a saber: o uso do nosso livre-arbítrio e o domínio que temos sobre as nossas vontades. Pois as acções que dependem desse livre-arbítrio são as únicas pelas quais podemos com razão ser louvados ou censurados, e ele torna-nos de alguma forma semelhante a Deus ao fazer-nos senhores de nós mesmos, desde que por cobardia não percamos os direitos que nos dá.

Assim, creio que a verdadeira generosidade, que faz um homem estimar-se a si mesmo no mais alto grau em que pode legitimamente estimar-se, consiste somente, por uma parte, em que ele sabe que não há algo que realmente lhe pertença a não ser essa livre disposição das suas vontades, nem por que ele deva ser louvado ou censurado a não ser porque faz bom ou mau uso dela; e, por outra parte, em que ele sente em si mesmo uma firme e constante resolução de fazer bom uso dela, isto é, de nunca deixar de ter vontade para empreender e executar todas as coisas que julgar serem as melhores. Isso é seguir perfeitamente a virtude.

Nota: O latim generosus designa o homem ou animal que é de boa raça. Portanto, «generoso» é antes de tudo aquele que é de raça nobre e, no sentido figurado ou moral, aquele que demonstra grandeza de alma."

in 'As Paixões da Alma'
René Descartes

26 de Novembro

"Da sociedade e do luxo que ela engendra, nascem as artes liberais e mecânicas, o comércio, as letras, e todas essas inutilidades que fazem florescer a indústria, enriquecem e perdem os Estados. A razão desse deperecimento é muito simples. É fácil ver que, pela sua natureza, a agricultura deve ser a menos lucrativa de todas as artes, porque, sendo o seu produto de uso mais indispensável para todos os homens, o preço deve estar proporcionado às faculdades dos mais pobres. Do mesmo princípio pode-se tirar a regra de que, em geral, as artes são lucrativas na razão inversa da sua utilidade, e de que as mais necessárias, finalmente, devem tornar-se as mais negligenciadas. Por ai se vê o que se deve pensar das verdadeiras vantagens da indústria e do efeito real que resulta dos seus progressos. Tais são as causas sensíveis de todas as misérias em que a opulência precipita, finalmente, as nações mais admiradas.

À medida que a indústria e as artes se estendem e florescem, o cultivador desprezado, carregado de impostos necessários à manutenção do luxo, e condenado a passar a vida entre o trabalho e a fome, abandona o campo para ir procurar na cidade o pão que devia levar para lá. Quanto mais as capitais impressionam de admiração os olhos estúpidos do povo, tanto mais seria preciso lastimar o abandono dos campos, as terras incultas e as estradas cheias de cidadãos desgraçados transformados em mendigos ou ladrões, e destinados um dia a acabar a sua miséria pelos caminhos ou sobre um monte de esterco. É assim que o Estado se enriquece por um lado, e se enfraquece e se despovoa, por outro, e que as mais poderosas monarquias, após muitos trabalhos para se tornarem opulentas e desertas, acabam por se tornar a presa de nações pobres que sucumbem à funesta tentação de as invadir, e que são invadidas e enfraquecem por sua vez, até que elas mesmas sejam invadidas e destruídas por outras."

in 'Discurso Sobre a Origem da Desigualdade'
Jean-Jacques Rousseau

25 de Novembro

"Creio que o exagero da atitude puramente intelectual, orientando, muitas vezes, a nossa educação, em ordem exclusiva ao real e à prática, contribuiu para pôr em perigo os valores éticos. Não penso propriamente nos perigos que o progresso técnico trouxe directamente aos homens, mas antes no excesso e confusão de considerações humanas recíprocas, assentes num pensamento essencialmente orientado pelos interesses práticos que vem embotando as relações humanas.

O aperfeiçoamento moral e estético é um objectivo a que a arte, mais do que a ciência, deve dedicar os seus esforços. É certo que a compreensão do próximo é de grande importância. Essa compreensão, porém, só pode ser fecunda quando acompanhada do sentimento de que é preciso saber compartilhar a alegria e a dor. Cultivar estes importantes motores de acção é o que compete à religião, depois de libertada da superstição. Nesse sentido, a religião toma um papel importante na educação, papel este que só em casos raros e pouco sistematicamente se tem tomado em consideração.

O terrível problema magno da situação política mundial é devido em grande parte àquela falta da nossa civilização. Sem «cultura ética» , não há salvação para os homens."

in 'Como Vejo o Mundo'
Albert Einstein

terça-feira, 23 de novembro de 2010

24 de Novembro

A vocação é um chamamento para seguir o caminho que Deus tem para nós (Projecto de Deus). Não passa só pelo grande sim que vamos ter de dar, mas pelos pequenos sims que contróiem o caminho para Deus, também são vocação.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

23 de Novembro

Conversas de Messenger:


[c=4]Rinka[/c]- Winry says:
Entao ela conta que um dia numa faculdade de Teologia alguem pergunta ao prof porque morreu Jesus naquele dia e não noutro dia qualquer
E o professor faz um grande discurso, sobre a vida, a impermanência das coisas, cita a Biblia e tal
E o aluno não percebe nada e sente-se perdido
Um dia pergunta a um sem abrigo que ele ajudava e esse responde-lhe
Cristo morreu nesse dia para poder salvar o bom ladrão
R says:

Obrigada Leonor e Manel:)!

22 de Novembro

"A doença é um estorvo para o corpo, mas não para a vontade se ela não o desejar. O ser-se coxo é um estorvo para as pernas, mas não o é para a vontade. Assim pondera todo e qualquer acidente, e chegarás à conclusão de que o acidente estorva sempre uma ou outra coisa - e que só para ti, movido de vontade, não é estorvo de espécie alguma."

in 'Manual'
Epicteto

domingo, 21 de novembro de 2010

21 de Novembro

Por mais incomodativo que possa ser para um Governo, a Religião nunca deixará de dizer aquilo em que acredita. É por isso que alguns governos conviveram mal com a religião, inclusivamente perseguindo-a, e é também por isso que a religião contribui para a liberdade social, além da libertação humana que Deus opera em nós. Tal como escreveu Alexis de Tocqueville,

A liberdade vê na religião a companheira das suas lutas e dos seus triunfos, o berço da sua infância, a fonte divina dos seus direitos. Considera-a a salvaguarda dos costumes e estes garantes das leis e da sua própria durabilidade.

Alexis de Tocqueville, in "Da Democracia na América" (1835)

sábado, 20 de novembro de 2010

20 de Novembro

UM SEGREDO DE UM CASAMENTO FELIZ

"Desde que a Maria João e eu fizemos dez anos de casados que estou para escrever sobre o casamento. Depois caí na asneira de ler uns livros profissionais sobre o casamento e percebi que eu não percebo nada sobre o casamento.

Confesso que a minha ambição era a mais louca de todas: revelar os segredos de um casamento feliz. Tendo descoberto que são desaconselháveis os conselhos que ia dar, sou forçado a avisar que, quase de certeza, só funcionam no nosso casamento.

Mas vou dá-los à mesma, porque nunca se sabe e porque todos nós somos muito mais parecidos do que gostamos de pensar.

O casamento feliz não é nem um contrato nem uma relação. Relações temos nós com toda a gente. É uma criação. É criado por duas pessoas que se amam.

O nosso casamento é um filho. É um filho inteiramente dependente de nós. Se nós nos separarmos, ele morre. Mas não deixa de ser uma terceira entidade.

Quando esse filho é amado por ambos os casados - que cuidam dele como se cuida de um filho que vai crescendo -, o casamento é feliz. Não basta que os casados se amem um ao outro. Têm também de amar o casamento que criaram.

O nosso casamento é uma cultura secreta de hábitos, métodos e sistemas de comunicação. Todos foram criados do zero, a partir do material do eu e do tu originais.

Foram concordados, são desenvolvidos, são revistos, são alterados, esquecidos e discutidos. Mas um casamento feliz com dez anos, tal como um filho de dez anos, tem uma personalidade mais rica e mais bem sustentada, expressa e divertida do que um bebé com um ano de idade.

Eu só vivo desta maneira - que é o nosso casamento - vivendo com a Maria João, da maneira como estamos um com o outro, casados. Nada é exportável. Não há bocados do nosso casamento que eu possa levar comigo, caso ele acabe.

O casamento é um filho carente que dá mais prazer do que trabalho. Dá-se de comer ao bebé mas, felizmente, o organismo do bebé é que faz o trabalho dificílimo, embora automático, de converter essa comida em saúde e crescimento.

Também o casamento precisa de ser alimentado mas faz sozinho o aproveitamento do que lhe damos. Às vezes adoece e tem de ser tratado com cuidados especiais. Às vezes os casamentos têm de ir às urgências. Mas quanto mais crescem, menos emergências há e melhor sabemos lidar com elas.

Se calhar, os casais apaixonados que têm filhos também ganhariam em pensar no primeiro filho que têm como sendo o segundo. O filho mais velho é o casamento deles. É irmão mais velho do que nasce e ajuda a tratar dele. O bebé idealmente é amado e cuidado pela mãe, pelo pai e pelo casamento feliz dos pais.

Se o primeiro filho que nasce é considerado o primeiro, pode apagar o casamento ou substitui-lo. Os pais jovens - os homens e as mulheres - têm de tomar conta de ambos os filhos. Se a mãe está a tratar do filho em carne e osso, o pai, em vez de queixar-se da falta de atenção, deve tratar do mais velho: do casamento deles, mantendo-o romântico e atencioso.

Ao contrário dos outros filhos, o primeiro nunca sai de casa, está sempre lá. Vale a pena tratar dele. Em contrapartida, ao contrário dos outros filhos, desaparece para sempre com a maior das facilidades e as mais pequenas desatenções. O casamento feliz faz parte da família e faz bem a todos os que também fazem parte dela.

Os livros que li dão a ideia de que os casamentos felizes dão muito trabalho. Mas se dão muito trabalho como é que podem ser felizes? Os livros que li vêem o casamento como uma relação entre duas pessoas em que ambas transigem e transaccionam para continuarem juntas sem serem infelizes. Que grande chatice!

Quando vemos o trabalho que os filhos pequenos dão aos pais, parece-nos muito e mal pago, porque não estamos a receber nada em troca. Só vemos a despesa: o miúdo aos berros e a mãe aflita, a desfazer-se em mimos.

É a mesma coisa com os casamentos felizes. Os pais felizes reconhecem o trabalho que os filhos dão mas, regra geral, acham que vale a pena. Isto é, que ficaram a ganhar, por muito que tenham perdido. O que recebem do filho compensa o que lhe deram. E mais: também pensam que fizeram bem ao filho. Sacrificam-se mas sentem-se recompensados.Num casamento feliz, cada um pensa que tem mais a perder do que o outro, caso o casamento desapareça. Sente que, se isso acontecer, fica sem nada. É do amor. Só perdeu o casamento deles, que eles criaram, mas sente que perdeu tudo: ela, o casamento deles e ele próprio, por já não se reconhecer sozinho, por já não saber quem é - ou querer estar com essa pessoa que ele é.

Se o casamento for pensado e vivido como uma troca vantajosa - tu dás-me isto e eu dou-te aquilo e ambos ficamos melhores do que se estivéssemos sozinhos -, até pode ser feliz, mas não é um casamento de amor.

Quando se ama, não se consegue pensar assim. E agora vem a parte em que se percebe que estes conselhos de nada valem - porque quando se ama e se é amado, é fácil ser-se feliz. É uma sorte estar-se casado com a pessoa que se ama, mesmo que ela não nos ame.

Ouvir um casado feliz a falar dos segredos de um casamento feliz é como ouvir um bilionário a explicar como é que se deve tomar conta de uma frota de aviões particulares - quantos e quais se devem comprar e quais as garrafas que se deve ter no bar, para agradar aos convidados.

Dirijo-me então às únicas pessoas que poderão aproveitar os meus conselhos: homens apaixonados pelas mulheres com quem estão casados.

E às mulheres apaixonadas pelos homens com quem estão casadas? Não tenho nada a dizer. Até porque a minha mulher continua a ser um mistério para mim. É um mistério que adoro, mas constitui uma ignorância especulativa quase total.

Assim chego ao primeiro conselho: os homens são homens e as mulheres são mulheres. A mulher pode ser muito amiga, mas não é um gajo. O marido pode ser muito amigo, mas não é uma amiga.

Nos livros profissionais, dizem que a única grande diferença entre homens e mulheres é a maneira como "lidam com o conflito": os homens evitam mais do que as mulheres. Fogem. Recolhem-se, preferem ficar calados.

Por acaso é verdade. Os livros podem ser da treta mas os homens são mais fugidios.

Em vez de lutar contra isso, o marido deve ceder a essa cobardia e recolher-se sempre que a discussão der para o torto. Não pode ser é de repente. Tem de discutir (dizê-las e ouvi-las) um bocadinho antes de fugir.

Não pode é sair de casa ou ir ter com outra pessoa. Deve ficar sozinho, calado, a fumegar e a sofrer. Ele prende-se ali para não dizer coisas más.

As más coisas ditas não se podem desdizer. Ficam ditas. São inesquecíveis. Ou, pior ainda, de se repetirem tanto, banalizam-se. Perdem força e, com essa força, perde-se muito mais.

As zangas passam porque são substituídas pela saudade. No momento da zanga, a solidão protege-nos de nós mesmos e das nossas mulheres. Mas pouco - ou muito - depois, a saudade e a solidão tornam-se insuportáveis e zangamo-nos com a própria zanga. Dantes estávamos apenas magoados. Agora continuamos magoados mas também estamos um bocadinho arrependidos e esperamos que ela também esteja um bocadinho.

Nunca podemos esconder os nossos sentimentos mas podemos esconder-nos até poder mostrá-los com gentileza e mágoa que queira mimo e não proclamação.

Consiste este segredo em esperar que o nosso amor por ela nos puxe e nos conduza. A tempestade passa, fica o orgulho mas, mesmo com o orgulho, lá aparece a saudade e a vontade de estar com ela e, sobretudo, empurrador, o tamanho do amor que lhe temos comparado com as dimensões tacanhas daquela raivinha ou mágoa. Ou comparando o que ganhamos em permanecer ali sozinhos com o que perdemos por não estar com ela.

Mas não se pode condescender ou disfarçar. Para haver respeito, temos de nos fazer respeitar. Tem de ficar tudo dito, exprimido com o devido amuo de parte a parte, até se tornar na conversa abençoada acerca de quem é que gosta menos do outro.Há conflitos irresolúveis que chegam para ginasticar qualquer casal apaixonado sem ter de inventar outros. Assim como o primeiro dever do médico é não fazer mal ao doente, o primeiro cuidado de um casamento feliz é não inventar e acrescentar conflitos desnecessários.

No dia-a-dia, é preciso haver arenas designadas onde possamos marrar uns com os outros à vontade. No nosso caso, é a cozinha. Discutimos cada garfo, cada pitada de sal, cada lugar no frigorífico com desabrida selvajaria.

Carregamos a cozinha de significados substituídos - violentos mas saudáveis e, com um bocadinho de boa vontade, irreconhecíveis. Não sabemos o que representam as cores dos pratos nas discussões que desencadeiam. Alguma coisa má - competitiva, agressiva - há-de ser. Poderíamos saber, se nos déssemos ao trabalho, mas preferimos assim.

A cozinha está encarregada de representar os nossos conflitos profundos, permanentes e, se calhar, irresolúveis. Não interessa. Ela fornece-nos uma solução superficial e temporária - mas altamente satisfatória e renovável. Passando a porta da cozinha para irmos jantar, é como se o diabo tivesse ficado lá dentro.

Outro coliseu de carnificina autorizada, que mesmo os casais que não podem um com o outro têm prazer em frequentar, é o automóvel. Aí representamos, através da comodidade dos mapas e das estradas mesmo ali aos nossos pés, as nossas brigas primais acerca das nossas autonomias, direcções e autoridades para tomar decisões que nos afectam aos dois, blá blá blá.

Vendo bem, os casamentos felizes são muito mais dramáticos, violentos, divertidos e surpreendentes do que os infelizes. Nos casamentos infelizes é que pode haver, mantidas inteligentemente as distâncias, paz e sossego no lar."


in "Jornal Público"
Miguel Esteves Cardoso

19 de Novembro

"Determinemos, agora, quais são os limites e, por assim dizer, os termos da amizade. Encontro aqui três opiniões diferentes, das quais não aprovo nenhuma: a primeira deseja que sejamos para os nossos amigos, assim como somos para nós mesmos; a segunda, que a nossa afeição por eles seja tal e qual à que eles têm por nós; a terceira, que estimemos os nossos amigos, assim como eles se estimam a si mesmos. Não posso concordar com nenhuma destas três máximas. Porque a primeira, que cada um tenha para com o seu amigo a mesma afeição e vontade que tem para si, é falsa. De facto, quantas coisas fazemos pelos nossos amigos, que jamais faríamos para nós! Rogar, suplicar a um homem que se despreza, tratar a outro com aspereza, persegui-lo com violência; coisas que em causa própria não seriam muito decentes, nos negócios dos amigos tornam-se muito honrosas. Quantas vezes um homem de bem abandona a defesa dos seus interesses e os sacrifica, em seu próprio detrimento, para servir os de seu amigo!

A segunda opinião é a que define a amizade por uma correspondência igual em amor e bons serviços. É fazer da amizade uma ideia bem limitada e mesquinha, sujeitá-la, assim, a um balanço entre a despesa e a receita. Parece-me que a verdadeira amizade é mais rica e mais generosa; não calcula com exactidão com medo de oferecer mais do que recebeu. Não se deve temer na amizade que se vá dar demais ou que se vá perder alguma coisa.

A terceira máxima é a mais perniciosa de todas: quer que se estime ao amigo tanto quanto ele se estima a si mesmo. Mas há bom número de pessoas, cuja alma tímida e desalentada não ousa aspirar a uma melhor sorte. Serão, então, os amigos obrigados a pensar como eles? Não deverão, ao contrário, esforçarem-se por encorajá-los, sugerindo esperanças e doces pensamentos? É necessário, portanto, prescrever outros limites para a amizade.

(...) Eis aqui os limites nos quais creio poder encerrar a amizade. Que os costumes dos amigos sejam sempre puros, que uma inteira comunhão de bens, de pensamentos, de vontade, exista entre eles. E mesmo se, por infelicidade, um deles necessita de auxílio do outro, em alguma empresa de justiça duvidosa, mas de onde dependa a sua vida ou a sua honra, pode-se, neste caso, desviar um pouco o caminho certo, contanto que daí não resulte a desonra. A amizade, com efeito, condescende até um certo ponto."

in 'Diálogo sobre a Amizade'
Marcus Cícero

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

18 de Novembro

Noutro dia vi uma criança da catequese com um livro infantil chamado "Jesus gosta de mim".

Achei bonito, e fez-me pensar... e pensar em tantas feridas emocionais que algumas crianças de hoje têm de passar (Desentendimentos ou discussões dos pais, abandono, vícios, abusos, negligências, etc). Reparei que provavelmente, quanto mais uma criança passar por situações terríveis destas, maior será a sua necessidade e sede de amor. Então ao ler um livro assim, e conhecer Jesus, ... que consolo!

Jesus veio para cada um de nós, não desprezando os pobres, pecadores, drogados, prostitutas, viciados, criminosos, bebedos, mas sobretudo para esses. E quanto não devem estar próximas dele as crianças filhas destes pais: Por Jesus sofrer ao lado delas.

O reconhecimento da nossa miséria suscita misericórdia. A auto-suficiência não nos dá espaço a isso.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

17 de Novembro

O post de hoje é apenas um pedido sincero. A quem ler isto, peço por favor que reze com força e querer a Deus pelo filho pequenino de um amigo meu, que está no hospital. Sem mais a acrescentar por hoje. Muito obrigado...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

16 de Novembro

"A Virtude Pura não Existe nos Dias de Hoje

Numa época tão doente como esta, quem se ufana de aplicar ao serviço da sociedade uma virtude genuína e pura, ou não sabe o que ela é, já que as opiniões se corrompem com os costumes (de facto, ouvi-os retratarem-na, ouvi a maior parte glorificar-se do seu comportamento e formular as suas regras: em vez de retratarem a virtude, retratam a pura injustiça e o vício, e apresentam-na assim falsificada para educação dos príncipes), ou, se o sabe, ufana-se erradamente e, diga o que disser, faz mil coisas que a sua consciência reprova. (...) Em tal aperto, a mais honrosa marca de bondade consiste em reconhecer o erro próprio e o alheio, empregar todas as forças a resistir e a obstar à inclinação para o mal, seguir contra a corrente dessa tendência, esperar e desejar que as coisas melhorem."

in 'Ensaios - Da Vaidade'
Michel de Montaigne

15 de Novembro

"Mérito e Auto-Suficiência

Só os baixos méritos podem ser enumerados. Temei, quando os vossos amigos vos disserem o que fizeste bem e narrarem tudo; mas quando permanecerem com olhares incertos e tímidos de respeito e certo descontentamento e silenciarem por muitos anos a sua opinião, podeis começar a ter confiança. Os que vivem para o futuro devem parecer egoístas aos que vivem para o presente. (...) A face que se me apresenta o carácter é a auto-suficiência. Reverencio a pessoa que é muito rica de carácter, porque não posso concebê-la solitária, ou pobre, ou exilada, ou infeliz, ou protegida, mas um eterno protetor, benfeitor e bem-aventurado. O carácter é centralidade, impossibilidade de ser deslocado ou posto à margem. Um homem deve dar-nos a ideia de massa.

A sociedade é frívola e divide o seu dia em fragmentos, a sua conversação em cerimónias e derivativos. Mas visitando um homem talentoso, considerarei perdido o meu tempo se se limitar a amabilidades e cerimónias; antes, ele deverá saber colocar-se solenemente no seu lugar e deixar-me julgar, por assim dizer, a sua resistência; saber que encontrei um valor novo e positivo! - grande deleite para nós ambos. Já é muito ele não aceitar as opiniões e usanças convencionais. Esse não-conformismo servirá de aguilhão e lembrança e qualquer pesquisador terá que ouvi-lo, em primeiro lugar. "

in 'O Carácter'
Ralph Waldo Emerson

domingo, 14 de novembro de 2010

14 de Novembro



13 de Novembro


Não tenho muito jeito para ser católica. Felizmente, parece-me que é necessária esta falta de jeito, ou auto-suficiência, para o ser. Às vezes quando penso em me por a rezar, caio na mania de uma certa "programação prévia", e depois não me sai nada, porque seriam demasiadas as coisas que devia dizer. Preciso de me lembrar que é preciso despir-me da técnica antes. E apenas expor-me, e deixar que seja Ele a rezar em mim.