quinta-feira, 17 de junho de 2010

17 de Junho - I

I

Entre "Tive um mau dia" e "Sinto que estou a ter um mau dia" a diferença é subtil, mas existe. Posso ter estado à mesa a estudar durante três horas e sentir no final que não valeu de nada, mas no dia seguinte voltar e ver que afinal até sei a matéria que estive a estudar no dia anterior. Ou estar num café com uma pessoa e sair de lá a sentir que não consegui dizer uma frase decente, mas chegar a casa e ter no telemóvel uma mensagem a agradecer pela óptima conversa.

Na vida cristã, é quando me apercebo que o que eu vejo não é tudo (ou se calhar nem um décimo da verdade das coisas) que começa a tomar forma uma outra dimensão de entendimento da realidade, a da confiança. A confiança não está tanto no eu agir baseada num sentimento de que Deus está comigo, mas sim - e se calhar até mais - quando eu sinto o quarto vazio e mesmo assim rezo um Pai Nosso. Ou quando tenho a sensação de que o estudo ontem não rendeu, e hoje também não, e no dia seguinte não corre bem na mesma, e mesmo assim persisto porque quero levar para a frente, também na dificuldade, aquele que eu escolhi ser o meu curso. Ou o rumo do meu relacionamento com os meus pais. Ou aquele projecto que abracei no início do ano.

"Tenho um amigo meu que é mergulhador em profundidade. Ele contava-me que, às vezes, quando ele e os amigos mergulhavam fundo demais, a membrana do tímpano rompia e eles ficavam sem a mínima capacidade de orientação. Ora, quando isso acontece, como é que os mergulhadores voltam à superfície, sem conseguir perceber se estão a subir ou a descer? Seguem as bolhas de ar. E este meu amigo dizia-me: "E sabes o que é mais assustador? É eu estar a seguir as bolhas de ar em direcção à superfície e ter a nítida sensação de que estou a descer."

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