quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

18 de Fevereiro


Na Igreja Cristã celebra-se, na Quarta-feira a seguir ao Carnaval, a Quarta-feira de Cinzas, que dá início ao tempo de Quaresma. A Quaresma são quarenta dias (quarenta e sete, na verdade, mas os Domingos não são contados) até à Páscoa. Este tempo de Quaresma é identificado, no Evangelho, pela ida de Jesus até ao deserto, onde é tentado. E é neste deserto que Jesus deixa de ser apenas "Jesus, o filho de José e Maria", e passa a ser Jesus, o Messias, o Enviado a salvar a Humanidade.

O deserto representa o local de solidão onde eu me encontro comigo própria. Longe do Mundo e das suas solicitações, longe das coisas de que me alimento todos os dias, o deserto é um local onde eu percebo que também eu preciso de jejuar e que também eu tenho uma fome mais funda que as coisas todas de que me alimento todos os dias não podem saciar. O deserto é ainda um local onde o ruído que me rodeia cessa e eu me ouço apenas a mim, à minha respiração, aos meus passos, a caminhar sozinha sem um caminho previamente traçado. E apesar da dor que esta solidão traz, porque me priva de tudo aquilo que até aí absorvi como se a minha vida dependesse disso, a verdadeira liberdade reside aqui, porque só aqui me encontro comigo própria e, face às minhas limitações, percebo quem realmente sou e o que sou chamada a ser. Se no Mundo eu me fundo com todas as solicitações que me aparecem e de tanto correr já nem sei onde acabo eu e onde começa o Mundo, no deserto a solidão faz-me tomar forma porque me mostra os meus limites.

Creio que não é preciso muito para encontrar o deserto dentro de mim... basta parar. Hoje volto ao nome deste blog e digo "Pára e pensa. Pára e reza. Pára e medita.". Mas pára. Esta Quaresma pára todos os dias meia hora e fica só contigo e com Deus. Percebe-te. Caminha no silêncio e conversa com o que aparecer, mesmo que seja tentação. Jesus não foge das tentações mas conversa com elas, pondo-as no seu lugar. Também eu só posso avançar para mais perto do que Deus me chama a ser se conversar comigo própria, com os meus desejos e apetites, e só nessa conversa repetida, todos os dias, eu vou começar a conseguir discernir o que é tentação do que é vontade de Deus e só aí saberei por onde ir.

Que esta Quaresma seja tempo de caminho na solidão que nos liberta e de encontro com a vontade mais funda de cada um de nós.

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