quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

7 de Janeiro

Desde pequena que rezo o Pai Nosso. Aprendi-o talvez na catequese num ano que a minha memória de poucos anos mas muita coisa memorável deve ter encaixotado algures. Num dia desses anos ouvi uma história de um senhor que como eu rezava o Pai Nosso. Este senhor era um homem culto (Professor Universitário, creio) - e com culto quero significar com muita coisa cultivada e muita vontade de se cultivar. Na dita história este homem confessava que, quando rezava o Pai Nosso, não conseguia passar da primeira frase, porque sentia que nem a primeira frase entendia o suficiente para a poder repetir.

Eu, porém, sempre senti que de alguma maneira compreendia o Pai Nosso. Pelo menos sentia que o que eu entendia dessa oração era suficiente para mim para querer rezá-lo no final da (ou quando as palavras me faltavam, durante a) minha oração. E tantas vezes, cheia da boa vontade de ser voluntariosa e humilde e cheia de compaixão rezava um Pai Meu, para O sentir mais próximo, mais perto, para me sentir mais amada e assim (achava eu) poder amar mais os outros... ainda não tinha percebido nada.

Pai. Nosso. Meu e teu e da pessoa que não escreve neste blog e se calhar nem acredita em Deus. Da senhora irritante da cafetaria que passa o dia mal-disposta. Da minha mãe, que vem cansada do trabalho e nem repara que eu hoje estou triste e preciso de conversar. Se o meu primeiro passo em direcção a Deus foi quando percebi que era amada, creio que o passo decidido em direcção à Cristandade - que eu ainda não tinha verdadeiramente começado a perceber quando rezava o tal Pai Meu - foi quando entendi com o coração que afinal não sou assim tão diferente de nenhuma destas pessoas imperfeitas que me rodeiam: sou também eu irritável como a senhora da cafetaria e cansável como a minha mãe; e ainda orgulhosa e ansiosa e insegura e... e falível e humana, e merecedora de Amor exactamente como sou. Perceber isto mudou tudo.

Pai, porque somos frágeis e imperfeitos e precisamos de Ti, Pai de Amor infinito, para que nos guies e ilumines; Nosso, porque apesar de pecadores acreditamos nesta potencialidade imensa de comunhão imperfeita que nos alegra e nos inspira e nos dá esperança para não desistirmos de procurar o Teu rosto no mundo.

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